Marido de caminhoneira vítima da Ponte JK relembra despedida antes de desabamento: 'Íamos passar o Natal juntos na estrada'
José de Oliveira Fernandes e Andreia Maria de Sousa José de Oliveira/Arquivo pessoal Depois de um ano da queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, entr...
José de Oliveira Fernandes e Andreia Maria de Sousa José de Oliveira/Arquivo pessoal Depois de um ano da queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, entre Tocantins e Maranhão, familiares das vítimas seguem sem respostas sobre as investigações. A tragédia deixou 14 pessoas mortas e três desaparecidas. O caminhoneiro José de Oliveira Fernandes, marido de Andreia Maria de Sousa, que também era caminhoneira, contou como foi a despedida antes dele e a esposa pegarem a estrada no dia 22 de dezembro de 2024. "A gente andava sempre junto, eu na frente, ela atrás, então a gente estava sempre em contato pelo rádio, sempre conversando, brincando, dando risada. Inclusive quando ela saiu, a gente se despedindo, ela falou que ia passar no [supermercado] lá Imperatriz, comprar champanhe para a gente passar o Natal juntos na estrada", contou o marido. 📱 Clique aqui para seguir o canal do g1 TO no WhatsApp José e Andreia estavam juntos há dois anos. Os dois moravam em Brotas (SP) e trabalhavam na mesma empresa especializada em transporte de produtos químicos. Ele afirma que o caso se trata de um crime e cobra justiça. "Tá certo que não vai trazer ninguém de volta, mas não é uma coisa que pode ficar impune, porque se é com a gente, eles vão cobrar, não vão? Então, quer dizer, eles têm que pagar também pelo erro, pelo crime que eles cometeram. Que isso aí foi um crime. Não foi uma coisa que não foi avisada, né? De repente. Pelo que eu estou sabendo, o pessoal vem denunciando essa ponte, que essa ponte estava perigosa, ia cair e tudo, ninguém fez nada, né?", contou em entrevista ao g1. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que as investigações sobre as causas do desabamento ainda estão em andamento (veja nota completa abaixo). O g1 solicitou informações à Polícia Federal, que na época abriu um inquérito para apurar o caso, e ao Ministério Público Federal, mas não teve resposta até a última atualização da reportagem. Andreia Maria de Sousa de 45 anos morreu no desabamento da ponte entre MA e TO José de Oliveira/Arquivo pessoal A tragédia aconteceu na tarde do dia 22 de dezembro de 2024, entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA). A caminhoneira de 45 anos foi a quarta vítima a ter o corpo localizado no rio Tocantins, no dia 24 de dezembro. Ela estava levando uma carga de ácido sulfúrico para Belém (PA) quando a ponte desabou. Na época, José contou à TV Anhanguera que havia almoçado com ela horas antes do acidente. Desde a partida precoce de Andreia, o marido e a família tentam lidar com a dor e saudade. "Está sendo difícil ainda, não está 100%, nem para mim, nem para os pais dela. A mãe dela não consegue nem falar comigo direito, que começa a chorar. Tem um sentimento muito grande ainda, né? Está muito forte ainda. Uma perda que só por Deus, muito doido ainda", disse. LEIA TAMBÉM Ponte entre MA e TO: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre desabamento na BR-266 Ponte que desabou foi construída em 1960, passou por reparos em 1998 e precisava de novas obras; veja histórico da estrutura Carreta de ácido sulfúrico é retirada de rio quase dez meses após cair com ponte entre o Tocantins e o Maranhão; VÍDEO Os dois viviam uma união estável e se tratavam como marido e esposa. O casamento no civil estava marcado para janeiro de 2025. Segundo José, o plano seria que, depois de passar o Natal e Ano Novo na estrada, os dois iriam comprar as alianças na volta para casa. Por causa do acidente, o sonho do casal foi interrompido. Depois de um ano, o sentimento do marido é de que as famílias das vítimas foram esquecidas. "Abandonaram, a questão da família foi abandonada. Eles estão dando um sentido mais à ponte. Então, isso foi um esquecimento. Deveria entrar em comunicação com a família, dar uma satisfação, dar um apoio, alguma coisa assim, mas ninguém apoia. O que as outras famílias estão passando aí, que perderam o filho. Então, pode ficar no esquecimento. Pelo menos para a gente aqui mesmo, ninguém comunicou nada, ninguém fala nada. Então fica difícil". Desabamento da ponte Vítimas da queda da ponte que ligava o Maranhã ao Tocantins Arquivo pessoal A ponte caiu por volta das 14h50 do dia 22 de dezembro de 2024. No desabamento, caíram no Rio Tocantins três motos, um carro, duas caminhonetes e quatro caminhões, sendo que dois deles carregavam 76 toneladas de ácido sulfúrico e outros 22 mil litros de defensivos agrícolas. No dia, depois que Andreia saiu em direção a Belém, José parou em um posto e percebeu que o pátio estava sendo fechado. Um dos funcionários disse a ele que a ponte havia caído. Nesse momento, ele começou a ligar para a esposa e, sem resposta, contatou a empresa, que localizou pelo GPS o veículo na região da ponte JK. "Desengatei a carreta e voltei para lá correndo. Aí quando eu cheguei estava tudo caído lá. Pouco tempo que eu estava lá, o pessoal começou a achar os pertences boiando na água. Fui reconhecer, reconheci a bolsa dela, a toalha de banho, tudo", contou José. Ao todo, 18 pessoas foram vítimas do colapso da ponte, sendo que apenas um homem conseguiu sobreviver. Antes da ponte cair, moradores dos dois estados alertavam as autoridades sobre a situação da estrutura. A queda aconteceu no exato momento em que o vereador de Aguiarnópolis, Elias Júnior (Republicanos), filmava o local para denunciar os problemas da ponte que liga a cidade a Estreito, no Maranhão. Sem a ligação entre o Tocantins e o Maranhão, os motoristas que precisariam passar pela ponte estão tendo que optar por desvios em outras cidades. O restante da estrutura antiga foi implodido em fevereiro de 2025 e as obras começaram logo depois. Implosão da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA) Reprodução/TV Anhanguera Ponte entre Maranhão e Tocantins desaba sobre rio Arte/g1 Veja mais notícias da região no g1 Tocantins.