Biotravessia: crianças integram maior movimento sobre conservação do País
Crianças são apresentadas ao universo da observação de aves pelo voluntário Antonio Marcos Zenaro. Crédito: Comunica Com Alma/Paula Castrillo O desafio pr...
Crianças são apresentadas ao universo da observação de aves pelo voluntário Antonio Marcos Zenaro. Crédito: Comunica Com Alma/Paula Castrillo O desafio proposto naquela manhã de setembro era simples, mas cheio de significado: observar a natureza. Sem pressa, sem rótulos. “Hoje, não importa o nome das coisas. O que importa é a forma, o jeito”, orientava a educadora. A atividade, realizada em um bosque de Águas de São Pedro (SP), marcou um capítulo especial da Biotravessia, projeto com apoio da BluestOne, que percorre o país em busca de histórias de conservação. Desta vez, o cenário foi o ConservAção Brasil, evento realizado entre os dias 26 e 28 de setembro, que recebeu mais de 3 mil pessoas e se destacou não apenas como um encontro técnico-científico, mas como um movimento acessível e inclusivo em prol da sociobiodiversidade. Enquanto mais de 600 crianças da rede pública eram convidadas a explorar o ambiente com curiosidade, esperando ver uma onça ou surpreendendo-se com a diversidade das folhas, como a pequena Lívia Helena Jordão, de oito anos, algo maior acontecia ao redor. O ConservAção Brasil posicionou-se como o maior evento já realizado com essa temática no país, superando 139 horas de conteúdo e reunindo os maiores nomes do meio. Um movimento de conexões A educação ambiental, materializada nas mais de 21 oficinas para as crianças, foi um pilar fundamental, mas caminhou de mãos dadas com debates de alto nível técnico. O evento reuniu, em seus três dias, mais de 150 profissionais de todas as regiões, incluindo os maiores pesquisadores e conservacionistas do Brasil, distribuídos em 35 painéis. Plateia atenta no painel sobre Saúde Planetária, apresentado no primeiro dia de evento Crédito: Arquivo ConservAção Brasil Para Nondas Okiama, idealizador e um dos organizadores do evento — ao lado de Alexandre Resende, Carolina Lorieri e Celina Yoshihara —, o sucesso do encontro reside na convergência de saberes. “O ConservAção Brasil iniciou seu movimento em altíssimo nível de qualidade de conteúdo e profissionais envolvidos. Isso foi dito não só por nós, mas por quem esteve presente, mostrando na prática que articulações conjuntas são necessárias para que a consciência sobre o meio ambiente seja mais efetiva”, avalia Nondas. Ele complementa com uma reflexão sobre a necessidade de união: “Somos um povo com grande consciência ambiental, mas isso individualmente. E esforços individuais não possuem a força necessária para promover mudanças estruturais sistêmicas. Por isso, nos colocamos nessa posição de ponto de convergência, reunindo e promovendo conexões e articulações em prol de mais letramento climático e de natureza”. Alexandre Resende complementa com a frase que o motiva profissional e pessoalmente: “não podemos esquecer que somos todos interdependentes e estamos todos interconectados. Juntos, podemos mudar muita coisa”. Time de organizadores e voluntários do ConservAção Brasil Crédito: Arquivo ConservAção Brasil Arte, cultura e futuro Além da ciência e da educação, o evento apostou na sensibilidade. A estratégia foi usar a arte e a cultura como ferramentas de conexão emocional com o universo da conservação. Durante os três dias, 10 atrações culturais — incluindo Slam, teatro, audiovisual, música caipira e expressões regionais — temperaram as tardes e noites, enriquecendo a experiência do público com narrativas diversas da nossa cultura. Apresentação do Grupo Baque Caipira com seu ritmo afro-indígena Maracatu de Baque Virado. Crédito: Arquivo ConservAção Brasil Essa mistura de ciência, arte e educação lúdica gerou resultados visíveis. Nas oficinas, crianças como as que criavam “brinquedos” para aves com galhos secos e pinhas aprendiam a lidar com a frustração e a encontrar novos caminhos, transformando o olhar individual em coletivo. “Às vezes, eles se frustram quando não dá certo, mas depois descobrem outros caminhos. É bonito ver como aprendem com o processo”, conta a educadora. Atividades combinadas como proposto no ConservAção Brasil são um exemplo concreto de como a educação ambiental pode ir além da teoria. O evento reuniu educadores e pesquisadores em um painel sobre mudanças climáticas. A coordenadora de redação do programa Terra da Gente, Lizzy Martins, destacou o papel da comunicação nesse processo e reforçou a importância de aproximar escolas e famílias do debate ambiental. Ao lado dela, Daniela Vianna, autora de uma cartilha educativa, apresentou um manual com propostas de atividades para professores e pais. O objetivo é simples e urgente: despertar o senso de responsabilidade ecológica desde cedo. “Precisamos acelerar a quebra do silêncio climático nas escolas”, afirma Daniela. “As crianças já têm muitas respostas. Cabe a nós ouvi-las e transformar suas ideias em ações”. A fala ecoa entre os presentes, lembrando que o futuro da conservação depende de atitudes cotidianas e do engajamento de todos. Ao final, o diálogo entre as gerações se fez presente. Se nos painéis os adultos debatiam estratégias complexas, nas rodas de conversa os pequenos mostravam que já entendem a urgência do tema. “Precisamos de leis contra o desmatamento”, sugeriu Pedro dos Santos, de dez anos, demonstrando uma maturidade que ecoa o propósito do evento. “Tem que reforçar a polícia ambiental para proteger as florestas”. Há quem confesse medo de um mundo sem árvores, com ar poluído e rios cobertos de lixo. Medos reais, mas acompanhados de esperança. Ao final da conversa, a emoção toma conta. A repórter agradece aos pais das crianças e professores “por plantarem uma semente que já virou uma plantinha com raízes profundas”. Seja no gesto simples de Melissa Prado, de nove anos, que ensina a não pegar sacolinhas sem necessidade, ou nas grandes articulações promovidas pelos organizadores, o ConservAção Brasil provou que conservar é um compromisso de todos. Um compromisso que começa no olhar curioso de uma criança e se estende até as grandes decisões que moldam o planeta, reafirmando a máxima de Baba Dioum citada ao fim da atividade: “Conservaremos apenas o que amamos, amaremos apenas o que conhecermos e conheceremos apenas o que nos for ensinado.” Ônibus da Reserva Itinerante de educação ambiental, que promove uma imersão num universo interno de uma floresta. Crédito: Comunica Com Alma/Paula Castrillo Biotravessia: crianças integram maior movimento sobre conservação do País - Crédito: Divulgação